terça-feira, 22 de junho de 2010

Congestão informativa?

Posted on 18:07 by Jornalendo

(por *Susan Liesenberg)

Comecei a comentar o post da colega Ariela Dedigo e percebi que seria interessante ampliar a excelente e instigante discussão que ele suscitou. Se o diagnóstico de estarmos sofrendo uma espécie de congestão informativa provém desse excesso de notícias que recebemos de todos os lados, isso não seria um indicativo de que estamos consumido algo que nos faz mal – além da demasia, claro – ? Ao mesmo tempo em que temos total liberdade para produzir, publicar e compartilhar conteúdos na internet utilizando as ferramentas sociais, parece que ainda nos sentimos ou nos fazemos de reféns do afunilamento da mídia massiva, que sempre fez as vezes de garçom diante nossa fome comunicativa, mas nem por isso adotou o papel de um chef de cozinha que sugere um prato e atende ao gosto do cliente: ela escoa por esse funil o que considera relevante levando em conta seus critérios internos, e não exatamente nossa necessidade.

Noto que muitas pessoas criticam a internet por considerar que "há muita porcaria nela", como é comum de se ouvir. Sim, há, como há em qualquer meio, mas percebo que o ponto da crítica não seja esse. Pelo excesso de tudo ao mesmo tempo agora - coisas boas e ruins -, penso que ela dê essa impressão de ser uma vastidão de coisas informativamente insalubres, a exemplo da percepção de muitos. Mas aí é que está: estamos, na verdade, diante de um imenso banquete. A mesa farta de opções e seu convite ao excesso, no entanto, nos coloca diante de uma falta de critério de escolha. Fomos condicionados por gerações a ter alguém que nos dissesse o que consumir de informação, que escolhesse por nós o ponto da carne informativa. Agora que temos meios de fazer isso – apontar o cardápio e ordenar o pedido –, sentimos a imensa falta de um mâitre nos indicando o que harmonizar com o mouse. Infelizmente, muitos sonrisais ainda serão vendidos. E a culpa não é do menu. É do nosso paladar.

2 Response to "Congestão informativa?"

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Bibiana Friderichs Says....

Na aula desta quarta-feira comentei com os alunos algo, que agora, lendo teu texto, me parece ainda mais pertinente.

Disse à eles, que talvez tivessemos de desmitificar um slogan político, limpando seu sentido rançoso e cristalizado, para acessá-lo sob outro significado. Na ocasião me refiria a máxima acerca da educação e do conhecimento, apontados geralmente como pressupostos essenciais para transformação da sociedade.

Ora, me parece que se não vivermos em um ambiente que nos inspire autonomia, de nada adiantará colocar um mouse em nossa mão, assim como ainda não adiantará um garçom portador de um cardápio limitado, se ignorarmos que existe comida para além dele.

Precisamos aprender a aprender, sobretudo.

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Jornalendo Says....

Muito rica esta discussão. Sempre tivemos o controle remoto na nossa mão com um gigantesco "menu" onde sempre zapeamos passando inclusive pelas "porcarias". Essa questão vem à tona ainda mais em relação à Internet, não apenas pelo fato da quantidade de informações contidas na rede. A web ainda vem acompanhada da sombra do caráter não-oficial, do amadorismo e da falta de credibilidade. Porcarias sempre existiram, vasto menu também. Mas em se tratando de web, além dessas duas questões, soma-se à característica de não conhecer a cozinha do restaurante.
Patrícia Pinto Lemos

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