quinta-feira, 24 de junho de 2010

Photoshop faz 20 anos com rostinho de 15

Posted on 17:10 by Jornalendo


(por *Pedro Marques) Muitas coisas mudaram durante essas duas décadas. As cameras analógicas foram trocadas pelas digitais. Agora, as fotos podem ser apagadas e tiradas novamente a pedido do profissional e do fotografado.

O software Photoshop foi criado em 1987, fruto de um acidente - de Thomas Knoll, na Califórnia, Estados Unidos. Knoll estava em casa trabalhando em sua tese de doutorado, quando criou um código em seu computador que exibia imagens em tons de cinza em um monitor de bitmap preto e branco. Como o código não estava diretamente relacionado à sua tese de doutorado, Knoll subestimou o seu valor. Mal sabia ele que esse era o primeiro esboço do fenômeno Photoshop.

Agora, 20 anos depois, ele conquistou mais de 10 milhões de usuários ao redor do mundo. Mudou o conceito de fotografia. E tornou mais rígidos os padrões de beleza femininos. Será? Neste quesito, da manipulação, é que nos enganamos. Em novembro de 1997, a Newsweek publicou na capa uma fotografia da senhora de Iowa que teve sete gêmeos. Os dentes da senhora estavam estragados, mas na imagem reluziam de brancura. No mês seguinte, na Suíça, um jornal decidiu avermelhar a água que descia do templo de Hatschepust, em Luxor, no Egito, dizendo que se tratava do sangue dos turistas assassinados pelos fundamentalistas islâmicos.

A alteração e a inclusão de elementos nas imagens fotojornalísticas foram procedimentos relativamente comuns ao longo da história. O novo é que a manipulação se tornou mais fácil e mais rápida. Além disso, há dificuldades em saber se determinada imagem fora tratada em um simples passar com os olhos na tela ou na página de um jornal.

As novas tecnologias trouxeram vantagens incontestáveis no que tange a qualidade da imagem, no quesito de se vencer o tempo e o espaço com maior rapidez e comodidade. Novas regras estão sendo debatidas, como, por exemplo, de que seja permitida a manipulação desde que o observador saiba que ele foi modificada e o motivo da mudança por parte do profissional da imagem.

Essas discussões não terminarão tão cedo. Sabemos que a fotografia tradicional difere da pintura, a imagem digital difere da fotografia tradicional quanto à realidade física. Porém, isso ficará para outra coluna.

3 Response to "Photoshop faz 20 anos com rostinho de 15"

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Bibiana Friderichs Says....

o binômio fotografia versus arte já fez aniversário, entretanto me inquieta quando esta discussão envereda para o campo da técnica, da manipulação... me parece que o recorte já uma forma de manipular o referente, tanto quanto ou mais do que o próprio photoshop. é manipulação porque tudo aquilo que enquadramos também significa tudo o que deixamos de fora. é manipulação porque cada imagem produzida pelo fotógrafo é fruto de uma escolha, uma perspectiva, um recorte, um fragmento do referente, percebido particularmente por alguém. para mim se trata mais de como, ou com que sensibilidade, você percebe um instante da experiência cotidiana e traduz em imagem...

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Tornado Magal Says....

Creio que seja interessante separar duas estações que envolvem o Photoshop: a utilização do programa para o tratamento de imagens não-jornalísticas e a aplicação dele neste contexto. Fora das redações, o Photoshop está praticamente naturalizado no uso de alteração de imagens - tirar manchas, clarear cenas, corrigir falhas... -, o que é, em essência, a mesma coisa que fazemos diante do espelho com o kit de maquiagem em mãos: forjamos uma natureza, realçamos traços, escondemos o que nos incomoda. Isso, no entanto, é totalmente diferente se aplicado no fotojornalismo. Se o jornalismo se propoe a ser um retrato da verdade da vida, da cena "como foi", da realidade dos acontecimentos alterar uma foto de valor jornalístico é o que preocupa, pois esta realidade que se pretende apresentar de forma idônea já não tem mais seu conteúdo íntegro. Tirar fragmentos de sombreamento, escuridão e outros elementos que podem comprometer a impressão da foto, por exemplo, é completamente diferente de alterar a imagem a ponto de dar-lhe outro sentido. Temos de ter os olhos atentos a essas diferenças entre fotos jornalísticas e não-jornalísticas, já que o intento das imagens - na arte, na publicidade, no mercado informativo - requerem esse olhar sensível e específico para cada caso.

Susan Liesenberg

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Ariela Dedigo Says....

Complementando as observações da Bibiana e da Susan sobre os recortes e escolhas do fotógrafo – que já são uma manipulação – e sobre o contexto e o intento das imagens e suas diferenças e a forma de olhá-los proponho proponho pensarmos também que uma foto jornalística, mesmo que sem nenhuma alteração, sofre influências do repertório do leitor – uma vez que a interpretação de cada um é subjetiva e que a foto jornalística normalmente nos é junto a outros conteúdos – matérias, legendas, outras fotos – no caso de galerias.

Então manipular a imagem no sentido de lhe dar mais clareza como a Susan comentou me parece muito menos manipulação da imagem do que um texto que nos leve a interpretar a foto de outras maneiras ou da maneira que convém à linha editorial do veículo. Acredito que no caso do jornalismo, falar sobre a imagem com uma leitura fragmentada seja um risco que possa nos tornar levianos ou puritanos demais... a manipulação não é do photoshop... é das pessoas que podem efetuá-la das maneiras mais variadas... voluntaria ou involuntariamente... de forma ética ou não...

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