sábado, 31 de julho de 2010

Diálogos abertos

Posted on 17:16 by Jornalendo


(por *Ariela Dedigo)

A capa da Time tem causado alvoroço e discussões. A foto traz Aisha, uma mulher de 18 anos que teve o nariz e as orelhas cortadas por tentar fugir dos sogros e do marido de quem sofria abusos. A matéria, assinada por Aryn Baker, aborda a situação da mulher e o medo do ressurgimento do regime Talibã. Não trataremos aqui a reportagem em si, mas o quanto essa imagem e uma apresentação da matéria feita no site da revista e assinada pelo editor Richard Stengel impactaram as pessoas diante da situação das mulheres afegãs.

Primeiro, louva-se a preocupação dos profissionais na escolha da fotografia. Se de um lado a intenção da própria Aisha era permitir que o mundo visse o efeito que o ressurgimento do regime Talibã teria sobre as mulheres do Afeganistão, de outro, o editor se preocupava com quem iria ver essa imagem. Tanto que conhecedor do impacto dessa fotografia e da certeza de quem crianças iriam ter acesso á ela consultou psicólogos especializados em tratamentos na infância que aprovaram o uso da foto de Aisha mutilada para que as crianças tomassem aquilo como um símbolo de que "coisas ruins que podem acontecer com as pessoas".

Outros dois fatores merecem atenção na leitura da matéria, do seu processo de construção e do diálogo ocorrido no texto de Stengel. Já falamos aqui sobre manipulação de imagem. Ora, é notável que a fotografia de Jodi Bieber passou por um tratamento - aquela que tira manchas, melhora iluminação etc - mas nem por isso perdeu essência e informação. Depois percebemos que os comentários realizados e publicados no site mostram que a internet, nesse caso, foi sim um espaço de diálogo, de troca de informações (compartilhamento de links relacionados), um apanhado de visões diferentes (contra ou a favor do uso da imagem e inclusive contra os Estados Unidos). Considerando o que foi colocado até o momento não parece equivocado dizer que esses comentários, que às 10h da manhã de sexta-feira (30) - um dia após a publicação do texto - ultrapassavam a marca dos 100, mostram que às vezes é preciso impactar de forma dura e, infelizmente, algumas vezes até cruel, para tirar as pessoas da inércia e da indiferença diante de questões que assolam o mundo em que vivemos.

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