sexta-feira, 9 de julho de 2010

Razões que a razão desconhece

Posted on 10:12 by Jornalendo


(por *Susan Liesenberg)

Se "o pior governo é o que exerce a tirania em nome das leis e da justiça", como disse o Barão de Montesquieu, o que dizer da atitude de blogueiros/jornalistas que, ao reivindicar o "direito à informação" sobre o caso dos três adolescentes de Florianópolis (SC) que teriam abusado sexualmente de uma colega de escola, misturam seu "desejo de justiça" com o fato de um dos diretores do Grupo RBS ser pai de um dos meninos envolvidos no caso?
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Logo que detalhes da história vieram à tona, blogs pipocaram opiniões sobre o abuso, esmiuçaram detalhes pessoais dos adolescentes e de suas famílias, relataram versões da menina abusada - dopada pelos três garotos, um deles, seu ex-namorado e filho de um delegado da capital catarinense, que teria querido vingar-se pelo término do relacionamento juvenil.
Veículos do Grupo RBS deram notas sobre o caso - preservando a identidade dos adolescentes, política editorial que segue as normas do Guia de Ética e Responsabilidade da empresa e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e, justamente por isso, foram criticados pela "falta de clareza".
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Em todos os casos envolvendo crianças e adolescentes relatados em seus veículos, a RBS respeita rigorosamente os dispositivos do Guia de Ética e Responsabilidade e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O que se viu, por parte de muitos blogueiros, foi uma perda visceral da razão ao expôr os adolescentes, julgá-los e condená-los arbitrariamente, e misturarem equivocadamente um pedido de "justiça" com ofensas dirigidas à empresa "monopolista, hegemônica", quando o debate deveria permear questões de valores, de limites, de construção pessoal desses meninos, e não usar, na figura deles, um Judas para malhar a RBS.
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O que se quer aqui é levantar o debate sobre que justiça é essa que se pede, qual o problema a ser relatado, que tratamento deve ser dado a isso e, mais, por que blogueiros que teriam aí uma oportunidade de mostrar maturidade e equilíbrio deram prova de serem tão "animalescos" e "sem limites" - para usar dois termos empregados por alguns eles em atribuição aos jovens. Se o mote é pedir "uma sociedade melhor", que respeite leis e faça justiça, a tirania não pode ser a bandeira a ser empunhada. Quando se quer civilidade, o grito não faz o diálogo.

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